terça-feira, 17 de novembro de 2009


- Você... - eu arfei. Não conseguia pensar em nenhuma palavra ruim o bastante. Pensei que o calor da minha raiva pudesse queimá-lo fisicamente, mas ele só parecia se divertir mais.
- Eu não estou fingindo que você não existe - continuou ele.
- Então está tentando mesmo me matar de irritação? ...
- Você é completamente absurda. - disse ele, a voz baixa e fria.
... - Por que não me deixa em paz? - rosnei.
- Quero perguntar uma coisa, mas você está me evitando - ele riu. Parecia ter recuperado o bom humor.
- Você tem distúrbio de personalidade múltipla? - perguntei séria.
(...)
- ... Qual é o motivo disso tudo?
- Eu lhe disse (...) Então estou desistindo. - Ele ainda sorria, mas os olhos ocres eram sérios.
- Desistindo? - repeti, confusa.
- Sim... desistindo de tentar ser bom. Agora só vou fazer o que eu quiser e deixar os dados rolarem. - O sorriso dele diminuiu à medida que ele explicava e um tom sério esgueirou-se por sua voz.
- Está me confundindo de novo.
(...)
- Isso é muito frustrante, sabia? - queixou-se ele.
- Não - discordei rapidamente, semicerrando os olhos. - Não consigo nem imaginar por que seria frustrante... Só porque alguém se recusa a contar o que está pensando, mesmo que o tempo todo esteja fazendo pequenas observações obscuras que pretendem especificadamente que você passe a noite toda se perguntando o que poderiam significar... Ora, por que isso seria frustrante?
Ele deu um sorriso duro.
- Ou melhor - continuei, a irritação contida agora fluía livremente -, digamos que a pessoa também tenha tido uma série de atitudes estranhas... De um dia salvar sua vida sob circunstâncias impossíveis a tratá-la como uma pária no dia seguinte, e nunca explicar nada disso, nem mesmo depois de ter prometido. Isso também não seria nada frustrante.
- Você tem um gênio e tanto, não é?
- Não gosto de dois pesos e duas medidas.
(...)
- Pode me fazer um favor? - Perguntei depois de um segundo de hesitação.
Ele de repente ficou cauteloso.
- Depende do que você quer.
- Não é grande coisa - garanti a ele.
Ele esperou, em guarda, mas curioso.
- Eu só pensei... se, para meu próprio bem, você podia me avisar com antecedência da próxima vez que decidir me ignorar. Para que eu fique preparada...

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