quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Always and Forever

Olá, bicho papão.
Me diga, como vai você? Ainda assombra pequenas garotas?
Sim, eu bem me lembro. Quanto medo!
Medo? Por lembrar.
A coragem me foi roubada - enquanto pequena garota.

Talvez você goste de saber:
Toda vez que me olho no espelho, não me vejo.
Cada vez que me procuro por dentro, não me acho.

"Filha, sinto tanta saudade da sua alegria - contagiava."
Isso sangra - muito obrigada.

Está lendo isso?
Sorria!

Não me disse para fazer o último pedido - tenho o direito?
Mesmo que atrasado: deixe outras pequenas garotas.
Ou não há satisfação em ver que o que resultou é para sempre

... e sempre.


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cisne Negro - Análise Crítica



Análise feita para a matéria Psicanálise II juntamente com minha imbatível dupla, Bruna.


Perfeição. Eis a palavra crucial ao se tratar do filme Cisne Negro.

A jovem bailarina Nina anseia para ser perfeita e para atingir esse objetivo é necessário que ela seja escolhida para representar o papel principal na peça “O lago dos cisnes.” Pura contradição.

Nina é o verdadeiro cisne branco. A garota – que já é mulher – vive com a mãe, que também era bailaria e deixou a dança após ter ficado grávida da filha.

Durante o filme é claro a situação de que a mãe de Nina quer que a filha seja a bailarina que ela não pode ser tornando-se assim extremamente controladora em relação à vida da garota. Nina, por sua vez, faz do sonho da mãe seu próprio sonho e dedica-se a carreira de bailaria com extremo fervor.

Nina vive da e para a dança. Como já dito, seu objetivo é ser perfeita. No entanto, toda sua dedicação acaba por prejudicar-lhe quando a chance de ser a protagonista na peça em que sempre sonhou aparece.

O problema se dá porque, para encenar o cisne negro, é preciso sensualidade, certo toque de malícia que Nina criada como uma garota que deve ser uma excelente e delicada bailarina, não possui. O modo como foi criada, a forte ligação com a mãe, a influência que sua mãe tem sobre ela, principalmente sobre a sua psique e pode-se até arriscar em dizer que sua mãe parecia ser uma parte externa da inconsciência de Nina, que freqüentemente alimentava o masoquismo e o narcisismo da filha, de forma doce até, mantendo a garota aprisionada em valores até mesmo infantis. O simbolismo desse aprisionamento é bastante explícito no filme, sua inocência, ingenuidade e até a própria infantilidade do seu quarto. A bailarina é completamente pura e inocente.

Segundo Freud (1914 – p.82), a libido afastada do mundo externo é dirigida para o ego e assim dá margem a uma atitude que pode ser denominada como narcisismo. Desse modo, podemos entender que é isso que ocorre com Nina. Seus instintos são dirigidos para a ânsia em atingir a perfeição.

No momento em que a bailarina nota que não está sendo perfeita, cai em desespero. Ela deposita seus instintos coçando seu corpo com tamanho nervosismo que passa a se machucar, a criar feridas na pele. Nas palavras de Freud (1914 – p.90): a hipocondria, da mesma forma que a doença orgânica, manifesta-se em sensações corpóreas aflitivas e penosas, tendo sobre a distribuição da libido o mesmo efeito que a doença orgânica.

É preciso que Nina desenvolva seus instintos sexuais para conseguir o papel que tanto anseia e quem acaba por lhe ajudar nisso é diretor, Thomas Leroy da companhia de ballet. Thomas estava disposto a ir fundo nas entranhas de Nina e arrancar a parte obscura e totalmente desenfreada da garota. Thomas quer Nina como a gêmea má também, como o Cisne Negro que é o oposto do Cisne Branco e principalmente o oposto de Nina, e sua primeira lição para ela é ir pra casa e conhecer-se, sentir-se, o que lhe entrega de bandeja o primeiro contato com a sexualidade, com a masturbação. O diretor quer uma bailarina de sexualidade aflorada, de agressividade competitiva, alguém que realmente passe a emoção e os sentimentos do papel, o que leva a dançarina agora a um doloroso conflito interno. Ele provoca a garota para aflorar seu lado negro e ela se sente atraída por isso, porém ao mesmo tempo transpassa resistência e sentimento de culpa quanto a isso.

Será correto fazer uma ligação sobre essa relação de Nina com o diretor da companhia juntamente com a teoria do Complexo de Édipo de Freud? Durante o filme o pai da moça não é ao menos mencionado, o que nos faz compreender que ela não obtém uma figura paterna e o diretor, um homem mais velho, lhe desperta interesse ao mesmo tempo em que se sente culpada.

Essas situações como de desejo seguido de culpa é extremamente analógica com os papéis que Nina deseja encenar, o de cisne negro e o de cisne branco. É como se ela, tendo os dois dentro de si, não tivesse ousadia o suficiente para deixar isso transcender.

Voltando a falar da relação de Nina com sua mãe, ainda de acordo com Freud:

“O amor dos pais, tão comovedor e no fundo tão infantil, nada mais é senão o narcisismo dos pais renascido, o qual, transformado em amor objetal, inequivocamente revela sua natureza anterior.” (1914 – p.98)

Frustrada por sua carreira, a mãe da bailarina quer que a menina seja tudo o que ela não foi. Controlando arduamente a vida da filha que acaba por não desenvolver uma personalidade própria. A cobrança de sua mãe é tão grande que em determinado momento do filme Nina, completamente sufocada, passa a sentir raiva disso. Rebela-se.

Mais que o trágico final dessa história, a parte de grande impacto é quando Nina enfrenta a mãe e sai com sua colega também bailarina Lilly, embebeda-se retorna para casa embriagada.

O que gera curiosidade é a cena após essa chegada, em que Nina se tranca em seu quarto com Lilly e as duas supostamente transam. Sim, supostamente, pois não fica claro se aquilo realmente aconteceu ou foi uma projeção causada pelos instintos reprimidos de Nina.

Lilly era a bailarina perfeita para interpretar o papel do cisne negro, que Nina tinha tanta dificuldade em fazê-lo. Isso gera um sentimento de inveja juntamente com admiração de Nina para com a amiga – novamente o cisne negro e o branco se mostram na personagem. É possível que esse conflito de sentimentos tenha feito com que Nina depositasse em sua concorrente toda a sua libido, mesmo que só em imaginação.

Os impulsos instituais libidinais sofrem (...) repressão patogênica se entram em conflito com as idéias culturais e éticas do individuo. Nesse fragmento de Freud (1914 – p.100) podemos compreender melhor os desejos de Nina para com Lilly.

Por fim, Nina consegue deixar com que seu lado negro aflore e faz sua tão sonhada apresentação. Vivenciar seu lado negro juntamente com seu lado branco não foi possível para a ilustre bailarina. Ela não conseguiu dominar os dois lados, seu ego não foi possível de suportar tal interpretação. Aliás, é certo dizer que o cisne negro seria o Id de Nina? Então, com sua morte, foi ele quem venceu?

O filme mostra de modo tão forte o conceito de narcisismo que nos deixa até apreensivos para falar sobre o assunto, com medo de não saber expor de maneira clara nossos pensamentos – tão simples – com os conceitos – tão complexos – de Freud.

Como dito no começo do texto, perfeição seria a palavra crucial ao se tratar dessa história. O narcisismo de Nina se faz presente em todo tempo por essa busca para ser perfeita, mesmo quando encontra a morte que então, finalmente se satisfaz tendo como últimas palavras “Eu fui perfeita!”


Referências:

ü FREUD, S. Sobre o narcisismo: uma introdução (1914). In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S.O Ego e o Id. (1923). In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.


sábado, 3 de dezembro de 2011

Δ

Será realmente altruísmo antônimo de egoísmo? Tenho pensado que não. Tenho acreditado que esses dois andam juntos, lado a lado, de mãos dadas.

Enquanto um faz você privar-se de coisas, atitudes, vontades não é o outro que se faz ali presente para que você consiga realizar tudo isso com a finalidade de atingir um objetivo?

Normalmente esse objetivo é referente a um sentimento. Normalmente também esse sentimento é nada a mais nada menos que o amor.

Ah, o tão falado amor...

Então a pessoa, por amar a outra, vivencia coisas como: ver seu ser amado com outra pessoa, ouvir os problemas amorosos da outra pessoa – e ainda tentar ajudá-la. Controlar-se quanto ao que sente, tentando não falar – ou então medindo muito bem as palavras – sobre seu sentimento, guardando abraços, carinhos ou qualquer outra coisa que ela saiba que vai acabar por “invadir o espaço” de quem se ama. Fazer coisas nunca antes imaginadas só para fazer – ou ao menos tentar – o ser amado feliz, mesmo que isso lhe magoe.

Tudo bem. Essas coisas podem ser vistas como maravilhosas, corajosas, humildes ou outros tantos termos empregados usualmente. No entanto, se pararmos para pensar atitudes altruístas são freqüentemente feitas para que a pessoa consiga permanecer perto de quem se ama, para não afastar-se, para não perder – e não seria isso um ato altamente egoísta? Pois é...

O altruísmo, o egoísmo e o amor. Três segmentos de reta, apontando três pontos diferentes, todavia, ocupando o mesmo espaço interno – limitado.