sábado, 16 de fevereiro de 2013

Escrever é enfiar um dedo na garganta,

mas nada sai.
Esforço-me, provoco a ânsia, mas nem seu gosto azedo sinto; apenas pigarreio e a garganta dói, arte, como se gatos a tivessem arranhado.
Tudo engulo. De tal forma que todas as coisas alojam-se em parte do meu corpo. Pesam-me.
Um peso oco que, ao tentar colocá-lo para fora, mostra-me a carga do vazio.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Vento no Litoral


Me peguei rindo agora ao lembrar daquela vez em que colocamos um colchão no porta malas da caminhonete e viajamos para a praia deitadas nele.
Não me lembro de ter lhe dito que esse era o lugar onde mais gostava de estar contigo. Você também nunca me disse se realmente tinha medo das ondas ou se era o pretexto para ficar segurando minha mão e cuidar de mim enquanto eu me iludia de que estava te protegendo. 
Não me esqueço de nós de mãos dadas nos agachando debaixo d’agua quando as ondas vinham, para não quebrarem em nós. E do quanto ríamos quando não conseguíamos fazer a tempo e acabávamos por engolir água. E depois das ondas você deitava-se ao sol para se secar e eu jogava areia em cima de ti só para que aí você tivesse que entrar na água de novo. Ao final da tarde voltávamos para casa. “Inventávamos moda” a noite como fazer brigadeiro e sair à caça de algum lugar aberto para comprar leite condensado e depois ficávamos deitadas na rede cantando. Demorávamos para dormir, pois você me contava histórias de quando era pequena e fazíamos planos para o dia seguinte, para os dias seguintes, os meses, os anos e toda a vida que se foi tão cedo. No dia seguinte éramos as últimas a acordar e enquanto o café da manhã não ficava pronto você tocava teclado - e como eu amava ver e ouvir você tocar. Depois íamos à praia e a rotina se seguia. Passávamos todo janeiro assim. 
Aquela vez em que estávamos voltando de viagem cantando e de repente fiquei quieta virando o rosto pro lado oposto ao teu e você me perguntou o que tinha acontecido, eu nunca lhe contei, mas a letra daquela música me fez perceber que um dia você iria embora. Não me lembro ao certo quantos anos tinha, se não me engano eram seis, virei o rosto porque não quis que você me visse chorando, mas fiquei tão triste e com tanto medo. Eu não sabia o que fazer sem você. Eu nunca soube. Eu não sei.
À nossa praia só retornei uma vez depois que você se foi. A onda veio, me agachei, mas suas mãos não estavam me segurando. Deixei que as outras me acertassem, mas o vento não levou tudo embora. E mesmo em outras praias, de outras ondas. Nada vai embora, “você está comigo o tempo todo”
Aprendi a sentar nas pedras e ver o mar que de alguma forma me diz que a vida continua e que se já que você não está aqui o que devo fazer é cuidar de mim. 
Não sei a onde está você agora além de aqui dentro de mim, mas por não mais poder segurar minhas mãos para me proteger do mar, acredito que és a responsável pelo vento que me ajuda a navegar.