domingo, 26 de dezembro de 2010

Se perder (...)

Vinte e seis de dezembro. Três e três da manhã. Fim de um Natal.
A árvore está acesa. Há estrela na ponta. Não há mais presentes pelo chão.
Uma garota com os cabelos presos, camisa masculina, óculos. Sentada no sofá com um laptop em seu colo, um cão dormindo a um lado seu e uma taça de vinho do outro lado.
Cena de um filme adolescente, esses que buscam passar uma imagem cult? Não.




(...) No abismo que é pensar e sentir.
[Sentimental - Los Hermanos]

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dream Catchers

Os sonhos desempenhavam um papel fundamental na vida dos Ojibwe. Para este povo que vivia na região dos Grandes Lagos americanos e que hoje também se espalha por outras regiões do Novo México, aprender a decifrar as mensagens reveladas nos sonhos era a tarefa mais importante que as pessoas tinham durante sua passagem pela Terra. Por causa disto, o dream catcher era uma ferramenta essencial.

O filtro de sonhos, como ficou conhecido em português, na verdade, não é um filtro, é uma teia. Os Ojibwe acreditam que, quando a noite cai, o ar se enche de sonhos, bons e ruins. Alguns destes sonhos, mesmo sendo pesadelos, podem conter uma mensagem importante do Grande Espírito para nós. Então, na verdade, estes sonhos são bons sonhos. Mas existem muitos outros sonhos e energias ruins flutuando à nossa volta e que não são nossos. Estes é que podem nos fazer mal. É justamente para separar estes sonhos e energias ruins que existem os dream catchers.

A tradição manda que as teias coloridas sejam penduradas sobre o berço dos bebês e a caminha das crianças. Os sonhos bons, sabendo exatamente aonde ir, conseguem passar pelo buraco central da teia, ao passo que os sonhos ruins ficam perdidos e acabam presos nos fios. Quando os primeiros raios de sol surgem, os sonhos maus desaparecem. Os círculos são feitos com ramos flexíveis de salgueiros e revestidos com tiras de couro.

Uma pena é colocada no centro, representando o ar ou a respiração, essencial para a vida. O bebê, observando a pena dançar ao vento, aprende uma lição sobre a importância do ar. Além disto, a pena de coruja, feminina, simboliza a sabedoria. A pena de águia, masculina, serve para dar coragem.

Para captar os sonhos dos adultos, os dream catchers são trançados em fibra e não com ramos de salgueiros. Por isso são mais resistentes.

Uma das lendas relacionadas aos dream catchers:


Uma aranha fiava sua teia próximo à cama da avó (Nokomi). Todos os dias ela observava a aranha trabalhar. Alguns dias depois, o neto entrou e, ao ver a aranha na teia, pegou uma pedra para matá-la. Mas a avó não deixou. O garoto achou estranho, mas respeitou o seu desejo. A velha mulher voltou-se para observar mais uma vez o trabalho do animal e, então, a aranha falou: Obrigada por salvar minha vida. Vou dar-lhe um presente por isso. Na próxima Lua nova vou fiar uma teia na sua janela. Quero que você observe com atenção e aprenda como tecer os fios. Porque esta teia vai servir para capturar todos os maus sonhos e as energias ruins. O pequeno furo no centro vai deixar passar os bons sonhos e fazê-los chegarem até você.
Quando a Lua chegou, a avó viu a aranha tecer sua teia mágica e, agradecida, não cabia em si de felicidade pelo maravilhoso presente: Aprenda, dizia a aranha. Finalmente, exausta, a avó dormiu. Quando os primeiros raios de sol surgiram no céu, ela acordou e viu a teia brilhando como jóia graças às gotas de orvalho capturadas nos fios. A brisa trouxe penas de pomba que também ficaram presas na teia, dançando alegremente e, por último, um corvo pousou na teia e deixou uma longa pena pendurada. Por entre as malhas da teia, o Pai Sol sorria alegremente. E a avó, feliz, ensinou todos da tribo a fazerem os filtros de sonhos. E até hoje eles vêm afastando os pesadelos de muita gente.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Movimento de queda e recuo

Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas.(...)
Estranho é que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
(...) Porque amar é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário...


ARISE AND BE!
ALL THAT YOU DREAMED!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Brilha a onde estiver!


Ela fixara em Deus aquele olhar de esmeralda diluída, uma leve poeira de ouro no fundo. E não obedeceria porque gata não obedece. Às vezes, quando a ordem coincide com sua vontade, ela atende mas sem a instintiva humildade do cachorro, a gata não é humilde, traz viva a memória da sua liberdade sem coleira. Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem servo de Deus. Nem servo do Diabo.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Clariceando

De uma hora para outra, ou até em menor tempo que isso, minha vida deu um giro de 360º... Que maravilha!
Há tempos digo que Clarice Lispector é minha escritora preferida, mas há pouco que passei a enxergar realmente suas palavras... o que fez me apaixonar ainda mais por ela.
Em seu livro, A paixão segundo G.H (o qual lí para um trabalho de fenomenologia e, deixando a modéstia de lado, ficou muito bom), a escritora pede na introdução que o mesmo seja lido apenas por pessoas de alma já formada e, por ler o livro, pelas outras obras conhecidas, pelas pesquisas que fui fazendo compreendi o que é que causa, acredito que não só a mim, ler Clarice: vai-se formando a alma, vendo o mundo pelo lado de dentro, a essência...
Hoje, Clarice completaria 90 anos de vida e ontem, completou-se 33 anos sem Clarice. Por isso resolvi deixar algumas de minhas marcas preferidas dessa escritora que classificou-se como uma pergunta ...

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."

"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas."

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."

"Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam."

"E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano."

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro."

"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão poerfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."

"Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante."

"Sou como você vê: posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me ver passar."

"Eu sou mais forte que eu."

"Mas o vazio tem o valor e a semelhaça do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é a resposta a meu - a meu mistério."

"O que obviamente não presta sempre me interessou muito."

"E daí? Eu adoro voar!"

"Como um gato de dorso arrepiado, arrepio-me diante de mim."

"Ter contato com a vida animal é indispensável à minha saúde psíquica."

"A música é da origem do pensamento, ambos vibravam no mesmo movimento e espécie. Da mesma qualidade do pensamento. Tão íntimo, que ao ouvi-la se revelava."

"Eu estava vendo o que só teria sentido mais tarde - quero dizer, só mais tarde teria uma profunda falta de sentido. Só depois é que eu ia entender: o que parece falta de sentido - é o sentido. Todo momento de "falta de sentido" é exatamente a assustadora certeza de que ali há o sentido."

Pra finalizar:

“Enfim, quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, eu era. Até o fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois "eu" é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo. Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana - e só realizaria o meu destino especifïcamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao que já não era eu, ao que já é inumano.

O mundo independia de mim - esta era a confiança a que eu tinha chegado: o mundo independia de mim, e não estou entendendo o que estou dizendo, nunca! Nunca mais compreenderei o que eu disser. Pois como poderia eu dizer sem que a palavra mentisse por mim? Como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. E então adoro... ”




quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Quem lembra?


É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar.
É sempre bom lembrar que o ar sombrio de um rosto está cheio de um ar vazio.
Vazio daquilo que no ar do copo ocupa um lugar.
É sempre bom lembrar, guardar de cor que o ar vazio de um rosto sombrio está cheio de dor.
É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa metade da verdade, a verdadeira natureza interior
Uma metade cheia.
Uma metade vazia.
Uma metade tristeza.
Uma metade alegria.
A magia da verdade inteira.
Todo-poderoso amor
É sempre muito bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Filosofia do Camelo

Uma mãe e um bebê camelo, estavam por ali, à toa, quando de repente o bebê camelo perguntou:

- Por que os camelos tem corcovas?

- Bem, meu filhinho, nós somos animais do deserto, precisamos das corcovas para reservar água e por isso somos conhecidos por sobreviver sem água.

- Certo, e por que nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas?

- Filho, elas são assim para permitir caminhar no deserto. Com essas pernas longas eu mantenho meu corpo longe do chão do deserto que é mais quente que a temperatura do ar e assim fico mais longe do calor. Quanto às patas arredondadas, eu posso me movimentar melhor devido à consistência da areia! disse a mãe.

- Entendi, mas, por que nossos cílios são tão longos? De vez em quando eles atrapalham a minha visão.

- Meu filho! Esses cílios longos e grossos são como uma capa protetora para os olhos. Eles ajudam na proteção dos seus olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto! respondeu a mãe com orgulho.

- Tá. Então a corcova é para armazenar água enquanto cruzamos o deserto, as pernas para caminhar através do deserto, e os cílios são para proteger meus olhos do deserto.

Então, o que é que estamos fazendo aqui no Zoológico?

Moral da história:

Habilidade, conhecimento, capacidade e experiências, só são úteis se você estiver no lugar certo!


Você está no lugar certo?