sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Clariceando

De uma hora para outra, ou até em menor tempo que isso, minha vida deu um giro de 360º... Que maravilha!
Há tempos digo que Clarice Lispector é minha escritora preferida, mas há pouco que passei a enxergar realmente suas palavras... o que fez me apaixonar ainda mais por ela.
Em seu livro, A paixão segundo G.H (o qual lí para um trabalho de fenomenologia e, deixando a modéstia de lado, ficou muito bom), a escritora pede na introdução que o mesmo seja lido apenas por pessoas de alma já formada e, por ler o livro, pelas outras obras conhecidas, pelas pesquisas que fui fazendo compreendi o que é que causa, acredito que não só a mim, ler Clarice: vai-se formando a alma, vendo o mundo pelo lado de dentro, a essência...
Hoje, Clarice completaria 90 anos de vida e ontem, completou-se 33 anos sem Clarice. Por isso resolvi deixar algumas de minhas marcas preferidas dessa escritora que classificou-se como uma pergunta ...

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."

"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas."

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."

"Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam."

"E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano."

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro."

"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão poerfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."

"Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante."

"Sou como você vê: posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me ver passar."

"Eu sou mais forte que eu."

"Mas o vazio tem o valor e a semelhaça do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é a resposta a meu - a meu mistério."

"O que obviamente não presta sempre me interessou muito."

"E daí? Eu adoro voar!"

"Como um gato de dorso arrepiado, arrepio-me diante de mim."

"Ter contato com a vida animal é indispensável à minha saúde psíquica."

"A música é da origem do pensamento, ambos vibravam no mesmo movimento e espécie. Da mesma qualidade do pensamento. Tão íntimo, que ao ouvi-la se revelava."

"Eu estava vendo o que só teria sentido mais tarde - quero dizer, só mais tarde teria uma profunda falta de sentido. Só depois é que eu ia entender: o que parece falta de sentido - é o sentido. Todo momento de "falta de sentido" é exatamente a assustadora certeza de que ali há o sentido."

Pra finalizar:

“Enfim, quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, eu era. Até o fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois "eu" é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo. Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana - e só realizaria o meu destino especifïcamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao que já não era eu, ao que já é inumano.

O mundo independia de mim - esta era a confiança a que eu tinha chegado: o mundo independia de mim, e não estou entendendo o que estou dizendo, nunca! Nunca mais compreenderei o que eu disser. Pois como poderia eu dizer sem que a palavra mentisse por mim? Como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. E então adoro... ”




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