sábado, 27 de fevereiro de 2010

"Existem momentos na vida da gente, em que as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis, e, por mais que a gente pense numa forma de empregá-las elas parecem não servir. Então a gente não diz, apenas sente."

Sigmund Freud

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Vivendo pra dentro

Fico vivendo uma vida toda pra dentro, lendo, escrevendo, ouvindo música o tempo todo. Tenho tentado aprender a ser humilde. A engolir os nãos que a vida me enfia goela abaixo. A lamber o chão dos palácios. A me sentir desprezada como um cão, e tudo bem, acordar, escovar os dentes, tomar café e continuar...

(...) Joguei sobre ele tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor.

Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro...

Uma pressa, uma urgência. E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça, para que não me firam, minto (...)

E tomo a providência cuidadosa de eu mesma me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio...

(...) Dá um certo trabalho decodificar todas as emoções contraditórias, confusas, somá-las, diminuí-las e tirar essa síntese numa palavra só.

Às vezes a gente vai-se fechando dentro da própria cabeça, e tudo começa a parecer muito mais difícil do que realmente é. Eu acho que a gente não deve perder a curiosidade pelas coisas: há muitos lugares para serem vistos, muitas pessoas para serem conhecidas...

Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros...

Olha, eu sei que o barco está furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também...

(...) Meu coração está ferido de amar errado...
Acho espantoso viver, acumular memórias, afetos...

Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não precisar de ninguém.

(...) Mas o que me doía, agora, era um passado próximo...

Mas eu não podia, ou podia mas não devia, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar...Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro.

Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu...

Preciso entrar com certa ordem no que digo, e dizer de novo, vê se me entendes: ele não se afasta, mas é dentro dele que eu me afasto. Dentro dele, eu espio o de fora de nós. E não me atrevo...

Fico quieto. Primeiro, que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar aos sete ventos, dá errado. Isso porque ao contar, a gente tem a tendência a embelezar a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica, é isso que quero dizer, e pensando mais longe, por isso mesmo literatura é sempre fraude. Quanto mais não-dita, melhor a paixão.

E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também.

(...)Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim, há muito tempo estava acostumada a apenas consumir pessoas como se consomem cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou.
Desculpe mas foi só mais um engano? E quantos ainda restam na palma da minha mão?


(...) Chegue bem perto de mim. Me olhe , me toque, me diga qualquer coisa, ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada...

(...) E recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores e conceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa só existência.

(...) De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida. Como uma ideologia, como uma geografia: palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo, e no território conquistado hastear uma bandeira. Mesmo que depois venha o tempo do sal, não do mel...

Não vou perguntar porque você voltou, acho que nem mesmo você sabe. Eu também não queria perguntar, pensei que só no silêncio fosse possível construir uma compreensão, mas não é, sei que não é, você também sabe, pelo menos por enquanto, talvez não se tenha ainda atingido o ponto em que um silêncio basta. É preciso encher o vazio de palavras, ainda que seja tudo incompreensão.

(...) Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo.

(...) De todos aqueles dias seguintes, só guardei um gosto na boca: de lágrimas. O gosto de lágrimas chegava nas madrugadas, quando conseguia me arrastar da sala para o quarto e me jogava na cama grande, cujos lençóis não troquei durante muito tempo porque ainda guardavam o seu cheiro, e então me batia e gemia arranhando as paredes com as unhas, abraçava os travesseiros como se fossem o seu corpo e chorava e chorava e chorava até dormir sonos de pedra sem sonhos...


Não sei se deixo rolar. Vou olhar os caminhos, o que tiver mais no coração, eu sigo...



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010


É... talvez seja sina das borboletas levarem coices e insistirem em guardar somente os sorrisos.
Mas, antes morrer pelos coices com as lembranças dos sorrisos, do que morrer sem ter tido nenhum dos dois.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

13 de Fevereiro de 2010

Humana. Infelizmente é só isso que sou.
Incapaz de proteger pessoas que gosto de passarem por coisas ruins - ainda mais você.
Incapaz de aceitar e discernir sentimentos - ainda mais relacionados a você.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

"Quando a gente tenta, de toda maneira, dele se guardar; sentimento ilhado, morto e amordaçado, volta a incomodar."

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mundo Grande


Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme.
Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,tão calma!
Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubrocomo é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.


Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"Qual o lugar da loucura?"

A pergunta do título foi feita ontem (quinta-feira) a nós, novatos pelo nosso futuro professor de Psicologia Social. Ele disse que pra quem tem diário seria interessante responder a essa pergunta e depois de um tempo no curso ler o que escreveu, pra ver a opnião que tem agora, escrever essa opnião para depois de um tempo ler e assim sucessivamente. Assim que cheguei em casa, escrevi.

A loucura não tem lugar, nem hora. A loucura não deve ficar presa, amarrada, longe da sociedade, levar choques - isso é impossível!

A loucura está dentro de cada um, de todos e, caso haja alguma exceção, socorro. Esse sim é o louco.

A loucura pode ser vista de várias formas. Por exemplo: provavelmente para aquela pessoa que só quer saber de balada e curtição, uma pessoa preocupada com estudos e que não goste de agitação seja louca e vice-versa.

Creio que a loucura que cada um carrega em sí é a responsável pela essência desse ser.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Memorial

Pelo jeito agora com a faculdade meu blog desanda, fico lá já pensando em como passar as coisas aqui; não para todo mundo ler e saber, mas para mim, pra ter registrado.

Hoje tivemos uma dinâmica com o professor Nivaldo que será professor de sociologia e filosofia, ele já havia se apresentado ontem e achei ela uma figura muito agradável.

Foi entrego uma folha de sulfite para cada um e nela teríamos que colocar nosso memorial escolar, as coisas que nos marcaram de forma positiva ou não, desde o jardim da infância ou desde quando a pessoa lembrasse. Eu, com a minha memória de elefante, comecei escrevendo já do parquinho, onde conheci o Lu e que nossa amizade existe até hoje; passei pelo ensino fundamental, da minha classe unida que mantém contato até hoje (aliás, hoje faz 11 anos que conheço aquela turminha maravilhosa e foi muito bom ter passado todo o final de semana com ela); fui para o ensino médio, as dificuldades de adaptação, da importância da Adriana, não só como professora e até eu ter reencontrado o Ri (que estudou comigo no pré) e nós agora estarmos construindo uma amizade super legal.

Após cada um escrever sua retrospectiva, formamos um círculo e cada um falou um resumo do que escreveu, falou da escolha pela faculdade de psicologia e ouvindo o que cada um disse, até o professor, com o que eu também escrevi pude notar como alguns professores, mesmo que de maneiras negativas, influcienciam em nossa vida, nossas descobertas, escolhas e também como a mudança de uma escola para a outra pode afetar o emocional de alguém; isso desde as pessoas de 17/18 anos que estão lá, até mais experientes como de 39/44.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A primeira vez a gente nunca esquece!

Chegou... o 1º dia da faculdade, não via a hora mais!

Começou com a coordenadora do curso se apresentando, depois ela passou a voz para uma professora, Dra. Ofélia; será impossível esquecer essa mulher. Ela iniciou falando que temos que tomar uma vacina, pois cuidaremos de ratos e mais, que cada um terá o seu e levará para casa, caso o rato morra, perde a nota semestral. Com um sotaque alemão, falando quase gritando, com aquele ar de superioridade, passou todas as regras exigidas na sala dela e foi logo entregando um livro pra cada um falando que queria um relatório impecável para a próxima aula, com olhar analítico de futuros psicólogos e não senso comum. Contou que tem esquizofrenia, foi internada muitas vezes e quando conseguiu controlar sua doença resolveu estudar sobre e foi fazer psicologia.

A coordenadora do curso fazia gestos para a professora se acalmar, falou pra ir com calma pois era só o primeiro dia e ela respondia, ficou feia a coisa uma hora em que ela virou para um aluno repetente e disse "você sabe que eu não te suporto, porque você é repetente, incompetente e demente." aí sim a coordenadora interviu de vez e acabou a "palestra."

Enquanto isso, uma menina já estava quase chorando, outra falando em desistir, outros chamando a professora de louca e outros simplesmente com expressões de pavor.

Então os outros professores começaram a se apresentar, falando apenas o nome, a disciplina e em qual semestre seriam as aulas com eles, aí a "Dra. Macabra" fala "E eu sou Ofélia, aluna do 4º ano" e o "repetente" "E eu o Pedro, professor..." e vimos que não tem rato pra levar pra casa, sotaque alemão, tampouco professora esquisofrênica (tava adorando isso).

Não sei explicar, mas é completamente diferente de escola... e muito bom! Que continue assim.